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terça-feira, 10 de maio de 2016

‘O Futuro Roubado’ é um livro científico que dói na cidadania

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Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_



 Há anos, desde que o li, se tiver de indicar um livro para alguém, não tenho dúvida de que é “O Futuro Roubado”, de Theo Colborn, Dianne Dumanoski e John Peterson Myers (L&PM Editores, 1997), que elenca e analisa estudos científicos sobre agentes químicos sintéticos que alteram os sistemas hormonais e que ecologistas e ecólogos, 30 anos antes de sua publicação, apontavam como deletérios ao meio ambiente e à saúde animal e à humana.
Por sua magnitude em dados científicos irrefutáveis, é reconhecido como uma continuação de “A Primavera Silenciosa”, da bióloga marinha Rachel Carson (1907-1964), publicado em setembro de 1962 – hoje um clássico da área da consciência ambiental planetária. A autora é uma celebridade mundial que, para o jornal inglês “The Guardian”, ocupa “o primeiro lugar entre as cem pessoas que mais contribuíram para a defesa do meio ambiente em todos os tempos”.


  O pioneirismo, a paciência, a sagacidade e o mérito de Rachel Carson como cientista são inegáveis. Ela sistematizou “toda a literatura científica disponível à época, numa brilhante obra literária de denúncia e divulgação científica”, ao mesmo tempo em que divulgou e reavivou a Teoria da Evolução de Darwin/Wallace “numa América conservadora e religiosa”.

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(Rachel Carson)


Para Alexandre Sallum, “de maneira demolidora, Rachel Carson explicou e denunciou o perigo dos pesticidas, apesar do título poético, uma referência ao silêncio dos pássaros mortos pela contaminação dos agrotóxicos... No primeiro capítulo, ‘Uma fábula para o amanhã’, a autora descreve, liricamente, um lugar onde as árvores não davam folhas, os animais morriam, os rios contaminados não tinham peixes e, principalmente, os pássaros que cantavam na primavera haviam sumido” (“A Primavera Silenciosa”, de RachelCarson, 2012).


José A. Lutzenberger (1926-2002): “O que precisamos questionar é a tecnologia dos agrotóxicos em si”. 


O primoroso prefácio da edição brasileira de “O Futuro Roubado” é do agrônomo e ambientalista José A. Lutzenberger (1926-2002), no qual declara: “O que precisamos questionar é a tecnologia dos agrotóxicos em si”. A edição norte-americana foi prefaciada pelo Nobel da Paz 2007 e ex-vice-presidente (de Bill Clinton, 1993-2001), Al Gore, que afirma: “Estudos com animais e seres humanos relacionam os agentes químicos a inúmeros problemas, como infertilidade e deformações genitais; cânceres desencadeados por hormônios, como o câncer de mama e o de próstata; desordens neurológicas em crianças, como hiperatividade e déficit de atenção; e problemas de desenvolvimento e reprodução em animais silvestres...
“Os organoclorados e outros produtos estão causando uma profunda alteração na base da sobrevivência dos seres vivos do planeta. Causam disfunções hormonais, levando à masculinização das fêmeas e à feminilização dos machos. Na espécie humana, já há uma queda em 50% da fertilidade pela progressiva destruição dos espermatozoides”.




“O Futuro Roubado” é um livro-síntese da literatura científica até 1996. É um livro-guia: depois que o li, sempre que avalio estar sendo ludibriada, na vida privada ou na pública, sou instada a reagir, pois o referido livro aparece flutuando em minha mente como um alerta para que eu não me cale! E nos roubam muito, quase tudo, até o parto, como relato em “O partoroubado é um conceito político de resistência”.
O título “O Futuro Roubado” hoje é mais que um livro. É também um conceito político de resistência aplicável a conjunturas políticas que retiram, usurpam, entravam direitos e roubam a cidadania, tornando perenes as assimetrias econômicas, as exclusões e as vulnerabilidades sociais e políticas.


 theo
 
 PUBLICADO EM 10.05.16
 FONTE: OTEMPO

Disponíveis em português na internet:

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