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terça-feira, 7 de maio de 2013

"Há uma justa medida em todas as coisas; existem, afinal, certos limites"



A ADVERTÊNCIA DO ROMANO HORÁCIO CONTRA OS EXCESSOS
Fátima Oliveira
 Médica –
fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
 

"Est modus in rebus, sunt certi denique fines" é frase do poeta romano Horácio (65 a.C.-8 a.C.) "em que ele adverte contra os excessos e recomenda a moderação. Literalmente: ‘Há uma justa medida (‘modus’) em todas as coisas (‘rebus’); existem, afinal, certos limites’ (Livro I, Sátira 1). É usada principalmente em tom de advertência, quando queremos sugerir que alguma coisa está passando do tolerável" (professor Cláudio Moreno).
Citando Horácio, tento responder a questionamentos sobre o que escrevi ultimamente, a exemplo de "Marco Feliciano tira sarro da cara de todo mundo porque pode" (O TEMPO, 2.4.2013); "Interdição racista: banheiros luxuosos não são para negros" (O TEMPO, 23.4.2013); e "O secularismo e o laicismo contra a intolerância religiosa" (O TEMPO, 30.4.2013).


Ficheiro:Quintus Horatius Flaccus.jpg  (Horácio em ilustração de Anton von Werner)
 

A frase também dá conta de se imiscuir no debate político em curso sobre a sucessão presidencial, que, daqui da minha esquina da vida, tem muito de tintura surreal, mas é uma boa diversão. Cito Horácio como um chamado ao livre pensar, valendo para governistas e oposicionistas, mesmo sabendo que, chamados à sensatez, muito provavelmente cairão no vazio, quando os contendores de uma peleja não se importam de fatigar a plateia. E eu sou plateia, embora tenha lado definido.
 
Mas a frase de Horácio é uma panaceia, pois também vale para a plateia, sobretudo aquela que tem voz nas chamadas redes sociais e que, às vezes, se faz de surda, abrindo mão de usar seus neurônios e adotando como regra do viver a carneirice - o mesmo que "sheeple", do inglês sheep (ovelha) + people (pessoas) -, conforme a sabedoria popular que diz que o hábito de um rebanho de ovelhas de seguir umas às outras pode levar o rebanho a cair no precipício. Pontuo que carneirice política tem muito de fanatismo.

 
 


 
 Escada, em política,
se constrói. Não é
à toa o empenho do PSDB em
materializar a escada
Eduardo Campos e
a escada Marina.

 
E a carneirice, seja de direita ou de esquerda, dá dó, pois é de uma previsibilidade e mesmice que não servem ao debate, nem à ampliação da compreensão política nem à luta de ideias, apenas causa enorme fadiga! E fadiga em política, todo mundo sabe, embora a maioria não aprenda a tirar lições, é caminho seguro para a perda de votos.
Sabe-se que voto que se volatiliza solidifica discursos amorfos, aventureiros, personalistas e messiânicos de matiz e da matriz "salvadora da pátria", pedra já cantada no primeiro turno das eleições presidenciais de 2010, como registrei em "A pequena burguesia ‘viajou’ na onda da alta burguesia" (O TEMPO, 19.10.2010): "Na reta final da campanha, todas as frações da alta burguesia se mobilizaram, coesas, para incensar Marina para garantir Serra no segundo turno! E se valeram de outro regato para jogar água no moinho da luta de classes: o fervor religioso fundamentalista, que deu voto verde fundamentalista. Usemos de franqueza: a façanha de Marina é trágica. No fundo, e de cálculo pensado, serviu de escada para o conservadorismo e ainda canta vitória!". E pior: acha, candidamente, que possui um curral eleitoral de quase 20 milhões de votos!
 
 
  (Dilma Rousseff, Marina Silva, Aécio Neves e Eduardo Campos)
 
 Destaco que escada, em política, se constrói. Não é à toa o empenho do PSDB em materializar a escada Eduardo Campos e a escada Marina. E contra as escadas, só há um caminho: a elevação da consciência política e sua decorrência direta, o pensamento crítico, sobretudo dos milhões que ascenderam à classe média nos últimos dez anos. Ainda há tempo, pois é temerário "esquecer-se dos milhões de recém-chegados à classe média (pequena burguesia), que, nela instalados, tendem a adotar valores políticos e morais da classe a que chegaram".


 Publicado no Jornal OTEMPO em 07.05.2013

5 comentários:

  1. Mama mia, disse tudo o que tenho entalado na garganta

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  2. Um artigo "maneiro", porém certeiro. Catar Horácio foi de grande valia e adequado

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  3. Tudo certo. Vamos ao debate.Suas ideias são firmes e interessantes

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  4. Fátima, mas a importação de seis mil médicos cubanostem limites, ou não?
    ....
    FENAM repudia anúncio de importação de 6 mil médicos cubanos pelo governo brasileiro

    Para a FENAM, a importação não assegura o atendimento de qualidade para a população e dentro dos moldes do Brasil.




    07/05/2013

    A Federação Nacional dos Médicos (FENAM) repudia a atitude do governo brasileiro de trazer 6 mil médicos cubanos para trabalhar no interior do país. O anúncio foi feito recentemente pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, com a justificativa que o Brasil sofre de déficit de profissionais de medicina. Já o presidente da FENAM, Geraldo Ferreira, esclarece que a defasagem no número de profissionais para atender nas periferias das grandes cidades se deve à falta de subsídios e convênios que valorize o trabalho.

    "A maioria das prefeituras não tem condições de pagar os médicos. O governo precisa estimular a criação do piso salarial e plano de carreira, com repasses para os municípios carentes. Só dessa forma teremos contratação nacional adequada".

    O ministro Patriota explicou sobre a organização para receber os médicos estrangeiros depois de um encontro com o chanceler de Cuba, Bruno Rodriguez. A articulação para a contratação é conduzida pelos governos dos dois países, com o apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e a ação começou a ser negociada em janeiro de 2012, quando a presidente Dilma Rousseff visitou Havana. Ainda há dúvidas, de como esses profissionais serão avaliados para poderem exercer a medicina da forma que é exigida no Brasil.

    O presidente da Federação argumenta que seguir esse caminho não assegura o atendimento de qualidade para a população e dentro dos moldes do no nosso país. Para ele, o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeiras (REVALIDA) é a única maneira de avaliar corretamente o ensino da medicina fora do Brasil.

    "Comprovadamente, os médicos formados no exterior não correspondem às necessidades do mercado brasileiro, a formação é duvidosa, precária e deficiente. Prova disso foi o resultado do último Revalida que admitiu apenas 14% dos inscritos", concluiu.

    A diretoria da FENAM participará essa semana do VI FIEM, da Confederação Médica Latinoamericana e do Caribe, em Portugal, e na ocasião levará sua posição de alerta em relação à questão e explicará os verdadeiros mecanismos que podem solucionar o problema. Ainda no encontro, a Comissão de Direitos Humanos da entidade apresentará relatório acerca do quadro calamitoso em que se encontra a saúde pública do Brasil. A Federação também vem acompanhando a revolta dos médicos brasileiros nas redes sociais e está averiguando a possibilidade de uma greve geral.


    Fonte : Imprensa FENAM

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  5. É um texto bem escrito e com muitos alertas.Eu também acho a carneirice política uma lástima, uma falta de auto-estima e de vergonha

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